EVOLUÇÃO URBANA

O bairro do Rio Comprido foi um dos bairros que mais sofreram com os efeitos das intervenções urbanas realizadas no Rio de Janeiro. Até a década de 1960, a Av. Paulo de Frontim era uma rua arborizada, com bons e belos sobrados e alguns edifícios de apartamento correndo ao longo da avenida, com o rio que corria no canal ao centro dividindo a avenida em duas pistas. No início dos anos 1970, embora totalmente urbanizado, continuava a ser um bairro agradável de classe média. Mas com a abertura do Túnel Rebouças e a construção do elevado Paulo de Frotin, sobre a rua principal do bairro, resultaram em um rápido processo de desvalorização com efeitos as transformações urbanas operadas no bairro. As limitações a entrada de luz natural, a vista para o elevado, o barulho e a poluição levaram muitos moradores a abandonar o bairro.

A Construção do Elevado Paulo de Frontin e as Transformações no Bairro

Podemos perceber que, até meados do século XX, o bairro em particular, sua principal avenida, a Paulo de Frontim, foi uma área de casas imponentes e belas residências, contudo, uma grande obra infra-estrutural que viria alterar completamente a situação do bairro. Em 1967, o bairro seria transformado em área de passagem destinada a solucionar alguns problemas viários da cidade. 

Foto 1 - Avenida Paulo de Frontin, nos anos de 1920.
A paisagem do bairro foi drasticamente afetada, principalmente sua avenida principal que perdeu o charme da alameda fluvial rodeada por imponentes palmeiras (foto 1), ficando à sombra do Elevado Paulo de Frontin (atual Av. Engenheiro Freyssinet) que interligava através do Túnel Engenheiro André Rebouças, a zona norte e a área central à zona sul da cidade.

Fotos 2 - Construção do Elevado e revitalização após o desabamento (foto de 1973). 

As obras foram marcadas por uma tragédia que abalou a sociedade carioca. No dia 20 de Novembro de 1971, ao meio-dia, segundo os moradores, o elevado sofreu o desmoronamento de um trecho com 122 metros de extensão, matando 28 pessoas e destruindo 22 veículos (fotos 4). Um caminhão betoneira carregado com 8 toneladas de concreto e pedras passava por cima do vão no momento do desabamento. O acidente obrigou a reconstrução do vão e o reforço estrutural de todo o viaduto. Aproveitando estas intervenções, o governo do antigo estado da Guanabara decidiu estendê-lo por quase dois mil metros, até o Campo de São Cristóvão, se configurando na parte mais antiga da Linha Vermelha. Foto 3 - Desabamento do elevado durante a construção no dia 20 de Novembro de 1971.

Com o bloqueio da Rua Haddock Lobo e o fechamento parcial do Túnel Rebouças, um enorme congestionamento paralisou a cidade. A tecnologia da construção do viaduto na época era considerada revolucionária. Ou por ser nova ou por ser o início da impunidade que assolaria o Rio e o Brasil, nunca foram apontados responsáveis para o desabamento. Quando a reconstrução do elevado foi finalizada, o governo achou mais prudente fazer um teste de carga mais rigoroso até mesmo para tranqüilizar a população. Colocou vários caminhões carregados no elevado (foto 4). Passado o teste o viaduto foi liberado para o tráfego e hoje é considerado um dos mais importantes do Rio.

Fotos 4 - Teste de carga feito antes de inauguração em 1974 e a multidão na Inauguração do Elevado Paulo de Frontin.

Em um discurso dirigido ao Sr. Antônio de Pádua Chagas, governador do Estado da Guanabará na epóca, o texto de inauguração do elevado dizia: "Ao entregarmos à cidade do Rio de Janeiro, para pleno uso, o Elevado sobre a Avenida Paulo de Frontin, inauguramos mais uma obra dentro do espírito do atual governo, qual seja o de que as obras públicas devem ser ajustadas às necessidades sociais. A obra já não nos pertence. É do povo. Que ela cumpra, Senhor Governador, com absoluta confiança o objetivo que dela sempre esperamos, integrando-se no sistema viário do Estado, em benefício de nossa população." - Eng. Emílio Ibrahim, 1974 (Fonte: http://www.emilioibrahim.eng.br/d_3-16_pfrontin.shtml)

Em 1992, o elevado foi conectado à Linha Vermelha, interligando a zona sul a outros bairros e municípios vizinhos da cidade.

Foto 6 - Família Barata, representante da classe média-alta moradora do bairro até o início da segunda metade do século XX.
Os tradicionais moradores (foto 6) mudaram-se e novos moradores se instalaram no bairro, mudando completamente o perfil da ocupação. Nos anos que se seguiram a instalação do viaduto os imóveis passaram por um acelerado processo de desvalorização e registrou-se uma acentuada queda no índice de qualidade de vida no bairro, com aumento da poluição do ar e sonora, instalação de população de baixa renda etc. Marcado pela presença de encostas, vertente norte do Maciço da Tijuca, o bairro observou o avanço da expansão urbana em direção as suas de encostas pela população de baixa renda. A tendência à desvalorização do bairro inaugurada com a construção do túnel e do elevado, seria completada com a expansão das favelas do Turano, do Fogueteiro, do Querosene e o Complexo Paula Ramos. O bairro do Rio Comprido, amargando, ainda, o esquecimento e o abandono por parte das autoridades municipais.passaria a registrar elevados índices de violência urbana.

Tendências Recentes 

Nos últimos anos, com a tendência de revalorização de áreas centrais e degradadas da cidade, onde os custos de instalação são menores, observam-se algumas importantes mudanças no bairro. No bairro do Rio Comprido podemos encontrar algumas importantes atividades instaladas há mais tempo como o Hospital do Corpo de Bombeiros, a casa de festas Le Buffet, o Sindicato das Empregadas Domésticas, o Campus Rebouças da Universidade Estácio de Sá (o maior e principal da universidade), a Fundação Osório (integrante do Sistema de Colégios Militares do Brasil), o Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia), o Hospital Espírita Pedro de Alcântara, a Bradesco Seguros, dentre outas. Sem esquecer é claro do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silviera, o CAP/UERJ. Nos últimos anos instalaram-se no bairro a sede do Canal Futura, a Fundação Cesgranrio, o centro administrativo do Jornal do Brasil, uma unidade da Unicarioca, várias empresas ligadas ao setor de segurança privada, um série de lojas ligadas ao setor de malharias, além de outras atividades comerciais e de serviços, como restaurantes, padarias etc, indicando, ao menos, o início de um processo de revitalização do bairro. O bairro com uma extensão de 334,25 hectares (2003), conta atualmente com uma população de 43.764 habitantes (2010) e um total de 15.559 domicílios (2010). Nas suas vizinhanças localizam-se os bairros do , Catumbi, Estácio, Praça da Bandeira, Santa Teresa, Tijuca, Centro e Cidade Nova. 

Foto 7 - Chafariz das Fundiões Val d'Osne (França) na Praça Condessa Paulo de Frontin tombado pelo município do Rio de Janeiro (foto atual)

Localização Estratégica: estabelece uma tríplice ligação entre as zonas norte, sul e central, fazendo limite com os bairros de Santa Tereza, Alto da Boa Vista, Tijuca, Praça de Bandeira, Estácio e Catumbi. 

Fontes das fotos: